O encontro da Society for Literature, Science & the Arts (SLSA) em 2025 ocorreu entre os dias 21 a 24 de agosto na Oregon State University (OSU), Oregon. Durante este encontro, Ana Paula Henrique Salvan, integrante da RAFeCT, apresentou seu paper intitulado “Microbial Encounters and the Risk of the Unknown in Astrobiological Research” no painel “Extraterrestrial Posthumanism: The Search for Life in Astrobiology, Science Fiction and Bio Art”.
Este artigo examinou como os astrobiólogos e os microorganismos se encontram no contexto da investigação astrobiológica. Com base no trabalho de campo etnográfico que Ana Paula Henrique Salvan conduziu no AstroLab, a primeira instalação de investigação exclusivamente dedicada à Astrobiologia no Brasil, a autora procurou destacar como os cientistas se envolvem com microorganismos não meramente como objetos de estudo, mas como participantes numa dinâmica multiespécie que informa a atual procura de vida para além da Terra. A procura (e a simulação) de vida extraterrestre dentro do laboratório levanta questões-chave sobre os riscos epistémicos e ontológicos inerentes à busca da astrobiologia por conexões cósmicas: Como é que os investigadores interpretam os comportamentos microbianos como análogos para a vida noutros planetas? Como é que os micróbios orientam os comportamentos dos investigadores durante as experiências? Como é que a contingência entra em jogo?
Em diálogo com When Species Meet (2008) de Donna Haraway, este artigo situa as experiências astrobiológicas como “zonas de contacto” dentro das quais o conhecimento é ativamente negociado e construído por humanos e não-humanos. A procura de vida extraterrestre, embora enquadrada como um empreendimento científico, é também um exercício de risco — um que envolve saltos especulativos, mediação tecnológica e a tradução de ritmos mais-do-que-humanos em sinais reveladores do potencial para vida noutros lugares e noutros tempos. Colaborando com o Extraterrestrial Posthumanism Project, este artigo argumenta que o envolvimento da Astrobiologia com a vida microbial força uma reconsideração do risco — não como uma ameaça a ser gerida, mas como uma característica inerente ao encontro com o desconhecido. Estas interações laboratoriais não só informam o conhecimento científico, como também reconfiguram a nossa compreensão da vida como um fenómeno relacional, contingente e profundamente especulativo.
Saiba mais no site do encontro.
Legenda da imagem em destaque: Ana Paula Henrique Salvan durante apresentação do paper. Créditos: Ana Paula Henrique Salvan