Carta proposta sobre participação de crianças na XV RAM
A participação de mães, pais e responsáveis em congressos científicos ainda enfrenta obstáculos quando o cuidado com as crianças não é devidamente previsto na organização dos eventos. A Rede Latinoamericana de Antropologia Feminista das Ciências e Tecnologias (RAFeCT) elaborou uma carta dirigida à Comissão Organizadora da XV Reunião de Antropologia do Mercosul (RAM), apontando falhas na estrutura oferecida para acolhimento infantil e apresentando recomendações para que, nas próximas edições, sejam construídos espaços de cuidado mais inclusivos, planejados e acessíveis. Desejamos que esta carta circule amplamente e auxiliem outros congressos nos seus planejamentos. A iniciativa dialoga com um movimento mais amplo, já presente em outras conferências no Brasil e no mundo, de reconhecer a parentalidade como parte da vida acadêmica e de garantir condições equitativas de participação para pesquisadoras e pesquisadores com filhos/as. Segue abaixo a carta encaminhada dia 13 de agosto de 2025 para a assembléia da XV RAM: Prezadas/os organizadoras/res da XV RAM, A Rede Latinoamericana de Antropologia Feminista das Ciências e Tecnologias (RAFeCT) apresenta esta carta de recomendações à Comissão Organizadora da XV RAM como forma de chamar atenção para falhas que ocorreram na organização do espaço dedicado ao acolhimento das crianças durante o evento, e ao mesmo tempo abrir caminho de diálogo para que em futuras edições da RAM, essa atividade receba melhor planejamento e atenção. No Brasil, a discussão sobre parentalidade no meio acadêmico vem se desenvolvendo a partir de pesquisas e debates, em diferentes áreas, há pelo menos dez anos, pelo menos desde a instituição do Parent in Science, grupo brasileiro que já realizou diversas pesquisas e publicações referente aos impactos da maternidade na produção científica de mulheres mães. Ao longo deste tempo alguns avanços foram realizados, como a inclusão do tempo de licença maternidade no currículo Lattes de pesquisadoras brasileiras, criação de editais de pesquisa voltados para pesquisadoras mães, aumento do tempo de avaliação da produção acadêmica em editais de importantes agências de fomento em todo país, incluindo o CNPq. Algumas agências de fomento tem previsto verba para esses espaços em seus editais de apoio a eventos científicos, reconhecendo a pertinência de tal demanda frente aos novos arranjos familiares e de cuidado que faz com que muitas pesquisadoras e pesquisadores tenham que levar seus filhos/as a eventos científicos. Sabemos que apesar de um cenário mais favorável para esse tipo de demanda hoje, ainda enfrentamos desafios em sua concretização, uma vez que o cuidado de crianças implica uma série de responsabilidades. Porém, com articulação antecipada, diálogo com a comunidade e previsibilidade podemos ter exemplos exitosos de atividades para crianças em congressos, como os que vem acontecendo há pelo menos uma década na organização da Reunião Brasileira de Antropologia que, na última edição contou com espaço bastante eficaz para receber crianças, em toda sua diversidade, e em consonância com as atividades do congresso. Abaixo apontamos os problemas principais identificados na organização do espaço para crianças na RAM e na sequência tecemos recomendações pensando os próximos eventos: Não foi criada uma comissão específica para organizar a atividade, ou pelo menos ela não consta no site do evento. É preciso ter uma comissão específica para tal, uma vez que tal atividade demanda uma série de articulações com a instituição que irá sediar o evento, como a busca por um espaço adequado para crianças. O levantamento da demanda foi feito em curto espaço de tempo para pensar as atividades e avisado tempestivamente aos responsáveis, faltando 5 dias para início do evento. Apenas no dia 06/06 a organização do evento encaminhou formulário para levantar a demanda de congressistas que precisassem de local de apoio para suas crianças, com prazo de retorno até 30/06. Porém, a confirmação de que tal atividade existiria, de fato, só foi feita em 30/07, ainda dando prazo até 02/08, ou seja, há 2 dias do inicio do evento, para nova confirmação. 3. A mensagem enviada em 30/07 coloca uma série de exigências que impedem ou excluem crianças. O limite de idade é comum nesses espaços que não recebem bebês, trabalhando geralmente com crianças entre 3 e 12 anos. Porém, no evento da RAM foram feitas exigências adicionais como a de que os responsáveis estejam disponíveis a cada 2 horas para checar necessidades de alimentação e higiene das crianças. Crianças com deficiência foram automaticamente excluídas dessa proposta, pois elas podem necessitar de apoio para questões mais simples como locomover-se no ambiente, para serem incluídas nas atividades, e em momento algum isso foi pensado dentro da proposta sugerida, o que nos choca considerando tratar-se de um evento de antropologia, disciplina que sempre defendeu a valorização da diversidade humana. Mesmo crianças pequenas desfraldadas e sem deficiência podem precisar de auxílio para ir ao banheiro. O horário de início e término das atividades das crianças se choca com o das atividades do congresso. Para responsáveis que estão coordenando atividades, apresentando trabalhos, torna-se inviável o horário sugerido, pois irá gerar atrasos consideráveis ao incluir o tempo de deslocamento entre o local onde ficarão as crianças (não informado no comunicado do dia 30/07), e o local de suas atividades (informado no dia 01/08). Diante desse cenário, trazemos abaixo recomendações para futuras edições da RAM no que diz respeito a organização de espaços para crianças: Estabelecer, no mesmo momento de definição das comissões que organizarão o evento, uma comissão responsável por organizar o espaço para as crianças. Essa comissão deverá indicar as necessidades previstas de espaço/atividades, mapear editais que possam ser uteis neste sentido, conversar com a direção de cursos da universidade que sedia o evento para construir apoios internos e/ou buscar empresas que fazem tal serviço, mapear a demanda e elaborar planilha de custos. A RBA tem expertise sobre o tema que pode ser consultada. Organizar o horário de início e término das atividades das crianças de modo a não se chocar com início e término das atividades do congresso. O tempo maior dependerá de onde estará localizado o espaço onde ficam as crianças, podendo ficar entre 15/20 minutos antes da atividade do congresso, e 15/20 minutos
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